Colo para a mãe

Quando o bebê nasce, todas as atenções estão voltadas para aquele serzinho indefeso. Todos querem acolher e acalentar o mais novo membro da casa. Seus choros são atendidos, sua fragilidade encanta. O recém-nascido conhece o mundo mais amoroso possível.

Mas o que ninguém sabe, ou talvez ignore, é que a mãe recente está tão indefesa e desnuda quanto aquele novo ser. Ela está cansada e fragilizada, pode estar assustada com tantas responsabilidades envolvidas em criar um filho. Ela se cobra e muitos cobram que ela seja a mãe perfeita. Ela é julgada e avaliada o tempo todo.

O colo para o bebê se justifica cientificamente: além de promover uma transição mais suave para o ambiente extrauterino, bebês que recebem mais colo sofrem menos de cólicas e outros desconfortos. Ao comparar e reconhecer a franca passagem desta mulher para uma vida nova, como mãe, deveríamos acolhe-la, com o maior zelo e cuidado. 

O pós-parto é uma onda que carrega e que leva embora. O colo e a atenção para a nova mãe podem ser sua âncora.

A mulher passa a gestação sendo o centro das atenções. Depois do parto isso muda. Os olhares e cuidados são voltados para o bebê e, a mulher, muitas vezes, enfrenta uma sensação terrível de invisibilidade. A mãe recente enfrenta a mudança corporal, a mudança de papel, a mudança emocional. O corpo lindo que exibia, a barriga avolumada e redonda cede espaço a uma barriga flácida e vazia. A mulher não se reconhece naquele corpo. Sem poder fazer os mesmos programas que fazia na gravidez, ela percebe a ausência dos amigos e, com isso, a ausência de mundos não-maternos. A variação hormonal do corpo que não está mais grávido é intensa e, unida à privação de sono, desestabilizam tanto uma mulher que podem levá-la à depressão. 

Em pouco tempo, todas as cobranças estarão nos ombros da mãe: maternar como as avós, ou tias, ou irmãs; dar conta do bebê, da casa, do marido e de si mesma; se arrumar e se cuidar; dormir enquanto o bebê dorme. 

Dar colo para a mãe é oferecer, literalmente, um lugar seguro, de empatia e cuidados. É, também, lembrar a ela que ela deve cuidar de si mesma, mesmo que se dedique integralmente a outro. É permitir que ela tateie o novo com liberdade, buscando ajuda se necessário, respeitando suas escolhas e individualidade. É estar atento, com ela, a suas emoções, a sua exaustão, ao seu descanso. Quem não gostaria de ter esse lugar seguro, passando por tantas transformações? 

Acolha a mulher que virou mãe. Pergunte do que ela precisa. Não imponha, não sugira, apenas demonstre, com muito amor, que está ali. Se todos em torno de uma puérpera fizessem isso, com certeza esse mergulho seria muito mais suave para todas as mulheres e para os bebês que elas carregam no colo.

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